segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Lambaris

 Lambaris


Da primeira vez, convidei meu irmão para uma pescaria.  Ele inventou uma desculpa, mas tanto foi minha insistência, que por fim concordou.  Perguntou aonde iríamos e eu disse que na barragem do Jacuí seria um local bom para passarmos a noite pescando. Ele disse que naquela água só dava peixes pequenos, que já fora várias vezes e nunca trouxera peixe graúdo. Eu disse que ele estava equivocado,  que tinham peixes enormes lá. Ele me disse que pescaria era mentira, ali só havia lambaris. Eu teimei: disse que tinha escutado vários depoimentos que naquela barragem pegavam até dourado.

Enchemos o carro, pegamos a estrada, chegamos cedo e montamos o acampamento. Depois de um gole ou dois de pinga, empunhamos os caniços e fomos para a beira da água.  Durante duas horas só fisgamos um tipo de peixe, miúdo: lambaris, e foram pouquíssimos. Voltamos ao acampamento, mais um trago, conversas, massa com sardinhas e retornamos à barragem. E foi só peixe miúdo o tempo inteiro e conversa mole. No outro dia, depois do café,  arrumamos as coisas e voltamos para casa. Passados dois meses, convidei meu irmão novamente para mais uma pescaria. Ele me perguntou aonde iríamos. Disse que na barragem do Jacuí estava dando peixes grandes. Ele disse que ali só dava peixes pequenos, lambaris, mas que arrumaria o material para sairmos assim que pudéssemos. Com minha teimosia e com a paciência do meu irmão,  pescamos por mais de cinquenta anos juntos. Paramos porque a barragem do Jacuí secou. Quem a viu associada,  disse que presenciou muito peixe pequeno, mas que também havia dos grandes, principalmente da espécie dourado. Dourado é conquista que se pesca aos poucos. Não chegamos lá,  mas tentamos uma vida toda, eu e meu irmão. 


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