quarta-feira, 16 de julho de 2014

Meu Pai Vende Lenha



Meu Pai Vende Lenha

Meu pai inventou de vender lenha.
A coisa andava feia lá em casa, como sempre esteve. A lata de arroz estava pela metade.
Ordenou os filhos e fomos à mata cortar eucaliptos – de propriedade alheia. Serviço suado, com serrote e facão, emprestados.
- O inverno vai ser rigoroso, vamos vender muita lenha.
Levamos de carrinho de mão, surrupiado temporariamente, lenhas para a praça central. Fizemos dez a doze viagens. Meu pai colocou a placa: dez por dois!
Acontece que a gente olhava pro céu e não via nuvens azuis. Estávamos de mangas.
- Mas logo teremos um frio de rachar e essa lenha não vai dar nem pra saída.
E assim vencemos a manhã, tarde e noite. Nenhuma venda e um calorão, afora a fome que batia forte.
Papai nos mandou pra casa, ia fazer plantão, cuidar durante a noite. Vai que algum gatuno...
Cedo chegamos com o café. Dizia meu pai que estava esperançoso, o tempo ia mudar. Mas não mudou. Passaram-se cinco dias, e meu pai firme, ali.
No sexto dia encostou um carro, dois homens. Meu pai esperançoso para nós:
- Vão levar pra estocar que o inverno se aproxima.
- Bom dia! Vendendo lenha, vizinho?
- E da boa. Dez por dois?
E eram os ficais da prefeitura. Levaram a lenha e as vendas do meu pai. Papai não se deixou vencer. No outro dia, passado o baque, a frente de casa colocou um cartaz:
- Concertam-se telhados.
- Como assim, pai?
- Ah, quando vier as chuvaradas goteiras nas casas é o que não vão faltar.
Levaram as lenhas do meu pai, mas não a esperança, nunquinha.


Ela Saiu

Ela saiu do apartamento numa terça-feira à tarde. Pensei,  já vai aproveitar a quarta e dar um rolé com as amiguinhas. Me deixou como se dei...