Meu Pai Vende Lenha
Meu pai inventou de vender lenha.
A coisa
andava feia lá em casa, como sempre esteve. A lata de arroz estava pela metade.
Ordenou os filhos e fomos à mata
cortar eucaliptos – de propriedade alheia. Serviço suado, com serrote e facão,
emprestados.
- O inverno vai ser rigoroso,
vamos vender muita lenha.
Levamos de carrinho de mão, surrupiado
temporariamente, lenhas para a praça central. Fizemos dez a doze viagens. Meu
pai colocou a placa: dez por dois!
Acontece que a gente olhava pro
céu e não via nuvens azuis. Estávamos de mangas.
- Mas logo teremos um frio de
rachar e essa lenha não vai dar nem pra saída.
E assim vencemos a manhã, tarde e
noite. Nenhuma venda e um calorão, afora a fome que batia forte.
Papai nos mandou pra casa, ia
fazer plantão, cuidar durante a noite. Vai que algum gatuno...
Cedo chegamos com o café. Dizia
meu pai que estava esperançoso, o tempo ia mudar. Mas não mudou. Passaram-se
cinco dias, e meu pai firme, ali.
No sexto dia encostou um carro,
dois homens. Meu pai esperançoso para nós:
- Vão levar pra estocar que o inverno se aproxima.
- Vão levar pra estocar que o inverno se aproxima.
- Bom dia! Vendendo lenha,
vizinho?
- E da boa. Dez por dois?
E eram os ficais da prefeitura.
Levaram a lenha e as vendas do meu pai. Papai não se deixou vencer. No outro dia, passado o baque, a frente
de casa colocou um cartaz:
- Concertam-se telhados.
- Como assim, pai?
- Ah, quando vier as chuvaradas goteiras
nas casas é o que não vão faltar.
Levaram as lenhas do meu pai, mas
não a esperança, nunquinha.