quarta-feira, 12 de março de 2014

Meu Pai É Impetuoso

Meu pai é impetuoso

Meu pai tem desses rompantes e sem consultar consultório e relógio, temperatura ou estado e ânimo geral da família, toma decisões inexplicáveis. Apenas comunicar que esta saindo, e se alguém pergunta pra onde, ele responde:
- Pra patente!
Menos pra mamãe, é claro.
Quer dizer que ele está brabo com alguma coisa, chateado, que não pode cumprir algum compromisso, que deixou alguém na mão, que faltou dinheiro pro leite, pra luz, pro pão. Meu pai é de tomar partido e quando fica em cima do muro, se sente um fracassado, um imbecil, um idiota.
Minha mãe o conhece bem, são casados há vinte anos, ao que me parece. Nestes momentos de aflição, em que ele coça os parcos cabelos que valentemente insistem no coco redondinho, minha mãe o olha com um carinho invejável. Quando eu crescer quero ter uma mulher igual a minha mãe. Ela tem um olhar consolador com ele, e no final diz:
- Calma, benzinho.
Meu pai, estes dias, vendeu o carro. Como assim vendeu o carro? O vermelhinho, todo limpinho, aquele que ele ensebava todos os finais de semana? Sim, ele vendeu, e pelo preço abaixo do mercado, sem consultar ninguém. Depois chegou em casa, colocou o dinheiro em cima da mesa amarela de fórmica da cozinha e disse:
- Vamos botar as contas em dia e seguir em frente.
E lá se foi o carrinho do meu pai e lá veio o dinheirinho pra resolver as pendengas monetárias familiares. E ele ainda frisou:
- A primeira que vai receber é a Tia Zilda. Eu durmo e acordo pensando nela, deus me livre de tanto mal! Onde eu estava com a cabeça quando pedi o dinheiro pra ela.
A professora me disse, quando eu contei esta história, que meu pai é impetuoso. Fui no dicionário e acho que meu pai é burro e teimoso. Mas não posso dizer isso pra ela, mesmo porque é ele quem compra o meu sucrílios e achocolatado. E depois porque aprendi que o burro não é burro coisa alguma.

O carro do meu pai vai deixar saudades, sabe-se lá quando ele vai poder comprar outro. Sempre vou lembrar dos passeios que fazíamos à praia, domingo, e da hora do almoço: o frango assado da mamãe junto ao fuscão, protegido do nordestão impiedoso.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Bonifácio - Adeus

Bonifácio - Adeus

Bonifácio abriu os olhos, era a mulher dando-lhe bom dia, pintada, dourada e pronta pra sair.
Sentiu no peito o golpe forte, ele seria abandonado naquela manhã.
E o cheiro do perfume dela denunciava a traição.
Bonifácio nunca mais a veria, nunca mais sentiria o seu beijo doce, suas mãos suaves, seu olhar meigo. Nunca mais meu amor.
O perfume a denunciara e ele entendeu isso naquela manhã. O perfume que ela ganhara do amante na noite anterior. Sem brigas ou discussões. Sem dores e emoções. Seco e doloroso feito um soco no estômago faminto.
Dando-lhe bom dia ela saiu. E Bonifácio ficou ali, olhando o forro vagabundo de plástico, sem ânimo, perdido, morto.
E o cheiro do perfume permaneceu.


Ela Saiu

Ela saiu do apartamento numa terça-feira à tarde. Pensei,  já vai aproveitar a quarta e dar um rolé com as amiguinhas. Me deixou como se dei...