segunda-feira, 11 de março de 2013

Cortador de Papéis

Cortador de Papéis


Cortar papéis com uma tesoura bem afiada, por exemplo, é um dos hábitos estranhos que ele mais gosta de executar. Cirurgião neurológico, palestrante internacional, agenda de Embaixador, três filhas na faculdade, conta bancária sólida. E adora cortar papéis, aproveitá-los, isso lhe dá prazer, uma coisa só dele. Não esconde, tem orgulho, até.

Um dia, a mulher estranhou: 

- Muraldo, há quantos anos te vejo cortando esses papéis... O que é isso, Muraldo? 

Não era uma coisa tão corriqueira assim, não era mesmo. Fez com que ela buscasse na memória quantas vezes ela o flagrara cortando folhas. Realmente, raras.

 

- É que só corto quando quero alinhavar os pensamentos.


Não era bem por isso, mas a resposta o agradou e contentou a mulher, que ficou ainda observando seus movimentos num namoro juvenil, mesmo depois de mais de trinta anos de casamento. Havia amor.


Muraldo corta por cortar, pelo prazer de ver os retângulos. Não raro, depois de cortados, pega a caneta e escreve palavras que o ouvido colhe ao acaso.

 


Muraldo corta porque a tesoura pertencera ao pai, e isso lhe dá a satisfação que apazigua uma saudade que esta ali, presente e não resolvida. Talvez isso possa ser verdade.


Ela Saiu

Ela saiu do apartamento numa terça-feira à tarde. Pensei,  já vai aproveitar a quarta e dar um rolé com as amiguinhas. Me deixou como se dei...