quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

As Árvores do Papai - Bonifácio

As Árvores do Papai - Bonifácio

Quando meu pai começou a plantar árvores naquele terreno, todo mundo sabia que em breve não teríamos espaço para mais nada.

Um dia eu disse:

- Padrinho, assim não dá. É muita árvore.

Mas meu pai não dava bola. Se bem me lembro, dava de ombros e sorria.

Hoje estou a contemplar estas árvores todas, crescidas, enormes, a lutarem por espaço. É certo que temos pássaros de todos as espécies que, a seus modos, se beneficiam dos frutos, das folhas, das sombras, dos poleiros, do sossego que só a eles compete apreciar.

Se papai estivesse aqui, eu diria:

- Padrinho, foram muita árvores.

Certamente não me responderia nada, assim como o fizera em quase todos os nosso momentos próximos.

Um dia quase botei fogo na nossa casa de madeira com um toco de vela. Quando ele chegou à noite, depois de ter batidos dormentes na gare, olhou-me nos olhos e só maneou a cabeça levemente. Eu esperava uma bela chinelada. Eu queria uma chinelada, um palavra ríspida, um fechar de cara nem que fosse por um dia. Eu precisava do meu pai para mim.

Colocamos uma placa de vende-se na casa. É hora de partir porque as lembranças pesam de uma forma que eu não previra. Fico pensando nos futuros inquilinos. Cortar as árvores será uma das suas primeiras medidas. O sol há de voltar a brilhar no pátio de saibro.

Ao meu lado, meu filho mais velho comenta:

- Padrinho, vou sentir saudades desta casa e das árvores.

Respondo:

- Eu também.



crédito: míriam da rocha fernandes







Ela Saiu

Ela saiu do apartamento numa terça-feira à tarde. Pensei,  já vai aproveitar a quarta e dar um rolé com as amiguinhas. Me deixou como se dei...