Bonifácio – Feliz Aniversário
Sentou com cuidado no sofá da sala de estar. Baixou a cabeça e verificou que o verniz do assoalho estava bem gasto. A mesa posta, uma torta de morango com a vela destacada para o parabéns. Bonifácio não tivera tempo de lavar as mãos e aquilo lhe dava a impressão de que tudo em si estava sujo. Ouvia conversas paralelas, contudo não distinguia os assuntos, o remédio fazia-lhe falta.
- Bah, mas tu tá sempre com essas bicheiras nas mãos!
- Isso é de trabalhar, não tenho tempo pra boutique.
- Tu tem é que te cuidar, sempre avoado, pensando besteira.
- Te devo alguma coisa? Pega a colcha, tá frio.
Se tivesse tido um pouco mais de inteligência, Harold não estava com a chefia da repartição desde sexta-feira passada. E tudo por conta dessa maldita política que só serve para engordar os bolsos dos larápios. Que vergonha, não levar nenhum presentinho para a Tia e ainda mentir que não tivera tempo. Por certo ela tinha notado a cara de derrotado dele.
Bonifácio olhou para Isaura e pensou que daquele mato não saía coelho. E como ria a desalmada! Ria mostrando todos os dentes. Meu deus, a vida andava toda enrolada e a outra naquela felicidade descabida. Hoje à noite teria uma conversa séria: ou ele ou o gato.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Bonifácio - A Festa à Fantasia
Bonifácio - A Festa à Fantasia
Bonifácio foi numa festa à fantasia e se tipificou de Palhaço. Pensou doze ou treze vezes se iniciava o trabalho com uma dose de uísque. Optou pela cerveja, e batatas fritas para rebater o malte. Da sua mesa, depois de alguns minutos, pode avistar a Mulher Maravilha sentada no outro extremo, sozinha. Viu que sua animação era tal e qual a dele. Pensou em se aprochegar, no mas, para uma conversa sobre a importância das festas à fantasia em plena destruição da mata amazônica, ou outro tema ligado às artes.
Acontece que a Bailarina Azul Cintilante, sorridente e na ponta dos pés, tomou conta da pista de apresentação, e por mais de duas horas envolveu a todos com seus passos acrobáticos, – ah, menos a Colombina que se retirou em protesto -. Era um balé moderno e bem sensual, mexia o ventre e os quadris com voluptuosidade jamais presenciada naquele local de primeiríssima qualidade. Uma mistura. O copo de Alexander não lhe escapou da mão nem quando o Pingüim a convidou para uma saída honrosa.
Bonifácio bebericou mais um pouco e voltou a pensar no uísque. A Mulher Maravilha estava fora do jogo, agora agarrada ao “Duas Caras”, inimigo do Batman, e aos beijos. A batata gosmenta esfriara na porcelana vagabunda e lascada nas bordas.
Quando o garçom passou, não teve dúvida: tequila, por favor. Dali para frente a coisa ficaria mais animada, tinha certeza disso. Recolocou o nariz de palhaço que estava esquecido no bolso. Antes do primeiro gole, e foi a última coisa que lembraria, pensou: Isaura que voltasse para a casa da mãe.
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