quinta-feira, 14 de abril de 2011

O Abacateiro – Bonifácio



Todo mês de outubro a matriarca comprava uma vassoura nova que geralmente era de palha e com o cabo azul. Deixava o utensílio perto da porta dos fundos que dava passagem para o pequeno quintal que havia na casa. Os habitantes da casa sabiam para que servia a vassoura, mas ficavam apreensivos com a atitude temporal de mamãe. Ninguém piava, mas aquilo era preocupante.

Existia um lindo abacateiro no quintal. A Mamãe esperava as primeiras flores da árvore, e com a ajuda da vassoura batia em todas os futuros frutos para que não desse um único abacate. Não sobrava flor alguma. Uma tristeza.

Um dia, Bonifácio, valente, aventurou-se:
- Por que a senhora não corta o abacateiro, mamãe?

- Cala a boca, disse muito zangada. Não posso cortá-lo, a presença do teu avô está ali.

- Mas por que a senhora não deixa os frutos crescerem, então?

- Cala a boca, repetiu. O teu avô só deixou histórias mal contadas pra gente. Cala a boca.

Estranhamente, naquele ano, mamãe deixou as flores crescerem e os frutos verdes vieram. Com exceção dela, comeram os demais com muito gosto, a base de limão e açúcar, esmagado no garfo. Dá vassoura nova não sobrou pedaço. Ela a quebrou em mil pedaços e depois a queimou no mesmo quintal, perto do abacateiro. Vovô fora perdoado, Bonifácio não saberia do quê nem por que.

A Mamãe era imprevisível. Meses depois plantou uma mangueira, e a vida seguiu como se nada daquilo fizesse sentido. Mas fazia para mamãe, só para mamãe.


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