Inverno: A Escolinha - Bonifácio
E eles chegavam.
Bonifácio acordava às cinco horas da manhã quando os galos davam os primeiro acordes do novo dia. A tina cobreada, com água a espera, naqueles invernos pampeanos, gelava até os olhos de quem a via. A época o menino não era valente, (e nunca o seria!), e com a ponta do dedo molhava levemente o indicador e lutava contra a remela da noite inocentemente dormida. O leite já estava quentinho no fogão a lenha, assim como os pinhões feitos na chapa. Mamãezinha querida! Coisa de dez minutos, Bonifácio dava o beijo sonolento na mamãe e saía campo a fora, deixando o pequeno sítio para trás.
O fotógrafo bateria o instantâneo onde veríamos uma estradinha de saibro que se sumia na distância e morria lá depois de onde não se via mais nada além do céu escarlate, se houvesse. E com passos miúdos mas firmes, o piá caminharia quilômetros até a escolinha municipal de ensino incompleto Meu Amiguinho. E por entre os bretezinhos apareceriam outros Bonifácios meninos e meninas que na mesma estrada marchariam. Rumariam num sonho em busca das senhoras das matemáticas, dos senhores das letras, das histórias, geografias, e de todas os demais estudos e invenções desta vida estradeira e saibrosa.
E acreditariam cegamente naquilo que os mestres regessem.
E assim eles chegavam.
Pois é amigo, hoje os Bonifácios tem transporte escolar e muitos não querem estudar.
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