segunda-feira, 28 de março de 2011

Os Anjos da São Carlos – Bonifácio

Os Anjos da São Carlos – Bonifácio

No frontispício da velha casa, como guardiões de um tempo presente, dois anjos decoravam a fachada azul. Ali, devido ao combate implacável contra o tempo, os querubins se deterioravam a vistas grossas dos transeuntes.

Um dia, Maria, a irmã mais velha, achou que era tempo duma reforma na frente da casa. Chamou um pedreiro passante que decepou os dois bustos num único golpe de picão. Milagrosamente, os anjos decaídos não sofreram nenhuma avaria significativa ao sentirem a dureza da laje grês quando bateram no chão.

- Qualquer ventinho poderia derrubar-lhes, justificou ela.

Bonifácio, menininho, perguntou:

- Mas os anjos não voam, mana?

- Voam, mas estes estavam cansados de tanto cuidar da gente.

Depois da reforma nunca mais se falou dos anjos nem nos anjos. Certamente foram levados da calçada pelos coletores de lixo e jogados nalgum parque da cidade para divertir as crianças. As crianças são as únicas que se divertem com os anjos, o resto da humanidade imagina.


crédito da imagem: foto de Míriam da Rocha Fernandes






2 comentários:

  1. Anônimo28/3/11

    nesse tempo, nessas horas, queria estar denovo naquela calçada.faria a mesma coisa! deceparia novamente os anjos e teria longos anos ainda a viver.....

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  2. Anônimo29/3/11

    Os Anjos, eu bem sei que fim não tiveram...eu os tirei da sarjeta e plantei-os no fundo úmido da casa de nossa mãe...
    irmão Tonico

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