Hoje Vendo Duas Cadeiras
Conto: um instantâneo tirado às pressas.
São sete horas da manhã e ela já abriu a precária loja.
- Hoje vendo pelos menos duas cadeiras, falou à gata, enroladita na almofada.
São sete horas, o tempo está úmido e fechado. Ela arrasta aquelas cadeiras velhas para a frente do estabelecimento. Um brique caindo aos pedaços onde quase nada pode se encontrar de prestável. Só mesmo num desespero para se comprar qualquer coisa, e encontrar algum vivente mui necessitado.
Maria tem quatro cadeiras para vender, uma de cada tipo e uma pior que a outra. Arrasta as cadeiras para a frente da loja, quase lhe falta força. Maria tem sessenta e sete anos de vida aguerrida.
A loja é herança do pai, falecido há mais de dez anos, que iniciou o negócio para complementar a miserável aposentadoria do governo. Vender para pobre não tinha dado certo, afinal o coração era mole, na hora de cobrar a porcaria que não servia mais, dava desconto e perdia dinheiro.
Maria não tinha aposentadoria, nem a miserável pensão, nem o coração do pai. Levava como podia o pequeno depósito, de quinquilharias invendíveis.
- Hoje vendo pelo menos duas cadeiras, resmungou sentando-se na menos deplorável delas.
Maria aguardaria com esperança algum interessado no negócio. Ou esperaria alguém se compadecer do quadro curioso, daquele instantâneo tirado às pressas. Pelo menos havia a claridade, um sol apareceria. Tomaria um bom café com leite e pão se vendesse as duas cadeiras. E se não vendesse nenhuma? Bem, pensaria nisso depois.
Dá gosto te ler meu amigo. Um abraço!
ResponderExcluir