quinta-feira, 8 de abril de 2010

BONIFÁCIO: Histórias

Bonifácio

     Quando Bonifácio olhou o saldo da conta corrente, num desses caixas eletrônicos do centro da cidade, ficou num desânimo sem alento. Observava fixamente o monitor e não acreditava naquela cifra negativa, o sinal de menos à esquerda da quantia. Mais um mês na pindaíba. O problema maior era o aborrecimento com a Isaura e a questão da pensão às crianças.

     Veja que coisa: Isaura se engraçou com o Felício, o montador de roupeiros da Casa Jaú, e desgraçou a vidinha mais ou menos que Bonifácio levava junto a até então bem amada Isaurinha. Mas a questão agora era Júlia e Carlinha, filhas daquela união que foi atropelada pelo montador. Mais um mês elas teriam que se contentar com o vale rancho do sindicato, através da cooperativa dos funcionários do município, e, de lambuja, créditos automáticos no celular, debito em conta, e só. Lambam os grossos beiços, filhas!

     O diabo na vida de Bonifácio era o cartão de crédito e o cheque especial. Gastou toda aquela fortuna em que lugar? Quando? Bonifácio procurava o furo da bala e nada. A bodega do Português José ia sofrer mais um pênalti naquele mês. Ia pagar só a metade da bóia consumida. O diabo na vida de Bonifácio foi os lábios fáceis de Isaura.

     Olhando o caixa eletrônico com desânimo, Bonifácio apertou a tecla para que a maquininha devolvesse o seu cartão magnético, algum status ele ainda lhe daria, quem sabe um outro empréstimo para pagar o empréstimo do empréstimo. Mas o cartão não queria sair de jeito nenhum daquela boquinha preta rala. E ali nada de gerente ou funcionário para reclamar.

     Na tela da máquina, Bonifácio lia: cartão bloqueado, consulte a sua agência. O homem ficou exaltado e começou a xingar a monstruosidade. Não lhe importava que aquilo não tinha ouvidos. E câmeras de vigilância, se as houvesse, que fossem às favas.

     Bonifácio, na raiva, pensando na Isaura, naquele sorriso doce, naqueles lábios molhados, deu um chute tão forte na maquina que chegou a desligá-la. Deu tilt! Subitamente o cartão foi ejetado, como se fosse alguém que tivesse engolido algo e lhe fizesse mal. Uma criança cuspindo uma bolinha de gude. Bonifácio sorriu largo, por hora o seu problema fora resolvido. A vida que lhe trouxesse soluções! Pensaria em tudo mais tarde, depois do expediente, na solidão do quartinho de pensão de Dona Inácia, olhando a foto da top model Isabella pendurada com durex na divisória de madeira.
Em 08.08.2010
Alexandre Henrique Branchi

Um comentário:

  1. Meu deus! Da lua de mel às pensões alimentícias... Será que Bonifácio olhou demasiado ao microscópio? Será que Isaurinha foi assim, longe, querendo alcançar estrelas?

    Ao meu escritor predileto, uma mensagem que tentei postar há muito tempo: continues escrevendo. bjs. mila

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