Uma dor nas costas
Eu não vinha me aguentando em pé. Não porque tivesse bebido, nem porque tenha trabalhado demais, nem por coisas do coração. Nada disso. Tratava-se apenas de uma dor nas costas, - dizem que é lombar, que me deixava e deixa desequilibrado, meio torto, desanimado. Ainda tenho uma dificuldade forte de sair da cama e encarar os primeiros passos.
Nessas horas e noutras muitas também, para passar meu desconforto com as coisas do mundo, lembro de uma senhora que encontrei no estacionamento do supermercado. Fazia um calor de quarenta graus, o asfalto de piche colaborava, e deparei-me com aquela velhinha que vinha pela casa dos noventa anos, caminhando com apoio da bengala, numa lentidão confiante, como se tivesse um objetivo a alcançar, um pódio. Eu, que vinha com minha dorzinha zélecozéco, apequenei-me num comparativo vexatório. Não me contive, e educadamente perguntei:
- Boa tarde! De onde vens, para onde vais, vovozinha?
- Olá, meu netinho. Faço sempre minha caminhadinha como forma de tapear o futuro certo, o que dali vem adiante, firme no propósito já traçado no início.
Tenho tido, desde sempre que a memória alcança, essa dor nas costa, na lombar, dizem!, mas desde então ela não me vence porque lembro daquela senhora que a passos de formiga faceira ia trilhando e enganando sorrateiramente algum encontro inapelável. Agarra-se à vida é um grande negócio porque é tão bom viver.
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