terça-feira, 24 de abril de 2012

Respeitável Público: Feliz Aniversário

Respeitável Público: Feliz Aniversário


Chegamos cedo. Era outono e precisávamos esticar a lona antes que a chuva prevista desabasse na pequena cidade. Mãos fortes e ágeis exerceram a arte de montar a barraca para o circo. O mastro era tarefa de homens. Éramos sete. As mulheres, três Marias, no camarim improvisado em lona precária perto do caminhão, arrumavam as fantasias: palhaço, bailarina, pierrô, saltimbanco, domador. Tios e tias escolhiam os milhos das pipocas e descascavam os amendoins; sobrinhos arrumavam os chaveirinhos. Fotografia de monóculo para a memória não trair a lembrança. E amigos mais que ajudavam na montagem do espetáculo.
Por volta do meio dia o público surgiu das pequenas ruas e chegaram à praça central. A música circense propalada pelos frágeis alto-falantes animava os espectadores que adentravam na encantada grande lona multicolorida. A entrada era quase franca, um presente.
Ressonaram os tambores e o apresentador convocou o público a participar aplaudindo os artistas ainda tímidos a espera da chamada triunfal. Gargalhadas com os palhaços, expectativas com as bailarinas, emoção com o pierrô, sustos com o domador de cachorros, e umas pulgas acrobatas acalentadas pela imaginação de uma platéia cheia de esperança.
Uma hora e meia de espetáculos. Todos felizes, deram vivas à alegria, à risada sem compromisso, à ilusão, à arte do artista.
Muito satisfeitos, principalmente o anfitrião, os trabalhadores da arte brindaram ao sucesso daquela apresentação. Cidade pequena, momento único, sem outra sessão. Ano que vem repetiríamos o ato se os deuses assim quisessem. Desmontamos a grande lona na promessa de mais um ano com votos de saúde, emoção e felicidade.





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