Um Canetaço
Meu pai é super estranho.
Todo mundo falou que o Jatobazinho jogou demais. Meus colegas na escola só falavam na grande partida do jogador de futebol. Até a professora, que não era muito destes assuntos, disse que o cara jogou um bolão. Disse assim mesmo:
- O cara jogou um bolão!
A gente podia rebater a professora dizendo que quem tem cara é cavalo, boi, bezerro. Mas na escola somos educados, quase todos, menos uns, menos outros.
E meu pai lá, sem se entusiasmar muito com a partida excepcional do atleta.
- Pai, foram três gols. Três golaços!
-Também achei, só acho que se faz muito estardalhaço na imprensa e endeusam o rapaz, e aí a gente esquece do resto.
- Que resto, pai?
Não me disse, mas vi papai falando pra mamãe:
- Um técnico do governo dá um canetaço numa licitação que garante a merenda mais barata pras escolas, beneficia milhares de crianças e não sai uma mísera notinha na imprensa.
Não entendi nada e continuo achando papai muito estranho. Acho que ele tem tido pouco para fazer. É bom quando está no trabalho, porque em casa é um general. Mesmo assim, sempre o escuto dizer pra mamãe que se considera um inútil na repartição. Um zero.
Jatobazinho jogou um bolão, papai não acha e mamãe nem opina, fica cortando couve bem fininha. Será que ela o compreende melhor? Certamente, certamente.
Vou pedir vinte pilas pro papai, tenho que comprar uma camiseta nova, não vou mais aborrecê-lo com o jogador. Mas que ele jogou muito, ah, isso jogou.
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