quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Só Um Minutinho

Só um minutinho.
Talvez meia hora, pode ser? Contados no relógio, pelo anjo do tempo, deixo, consinto, me conformo que seja assim, mas meia hora. Será que podemos?
Eu quero sentar em baixo da amoreira do meu irmão Raul, naquela que ele fica olhando e lhe dá paz.
Nosso banco há de ser vermelho, de madeira e ferro, que nem o da Praça Florida.
Sentados, conversaríamos. Bem, eu falaria muito mais.
Claro que eu anotaria com antecedência tudo o que lhe diria, matematicamente.Pra não perder tempo, visto que o anjinho estaria ali, olhando os ponteiros. E escutando, sei, bisbilhoteiro como devem ser os anjos. Afinal, são da guarda, nos cuidam.
De ti quereria apenas o sorriso que guardo sempre quando me lembro de ti. Aquele sorriso que começava nos lábios, alargava pras bochechas e terminava na barriga pançuda que eu adorava colocar minha cabeça quando menino.
Só isso. E se tu pudesses beber, te daria o chimarrão que confidencia segredos. E se pudesses comer, te daria rapadura, doce como as canções que cantarolavas na nossa casa da Rua São Carlos.
Só um minutinho de trinta minutos, só isso. Queria mais uma vez dizer que te amo, que me desculpo de muitas coisas que fiz, que o teu abraço tem o espaço que conforta meu coração.
Falaria sobre minha família e sobre a tua. E sobre a vida, afinal.
E depois desse encontro eu ficaria no banco vermelho, te vendo partir ou voltar. E eu sentiria uma alegria intensa e uma força enorme para continuar a regar o jardim que tu deixaste.
O maior amor do mundo, minha amada.
Um beijo.
Teu jardineiro






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