Só um minutinho.
Talvez meia hora, pode ser?
Contados no relógio, pelo anjo do tempo, deixo, consinto, me conformo que seja
assim, mas meia hora. Será que podemos?
Eu quero sentar em baixo da
amoreira do meu irmão Raul, naquela que ele fica olhando e lhe dá paz.
Nosso banco há de ser vermelho,
de madeira e ferro, que nem o da Praça Florida.
Sentados, conversaríamos. Bem, eu
falaria muito mais.
Claro que eu anotaria com
antecedência tudo o que lhe diria, matematicamente.Pra não perder tempo, visto
que o anjinho estaria ali, olhando os ponteiros. E escutando, sei,
bisbilhoteiro como devem ser os anjos. Afinal, são da guarda, nos cuidam.
De ti quereria apenas o sorriso
que guardo sempre quando me lembro de ti. Aquele sorriso que começava nos lábios,
alargava pras bochechas e terminava na barriga pançuda que eu adorava colocar
minha cabeça quando menino.
Só isso. E se tu pudesses beber,
te daria o chimarrão que confidencia segredos. E se pudesses comer, te daria
rapadura, doce como as canções que cantarolavas na nossa casa da Rua São Carlos.
Só um minutinho de trinta
minutos, só isso. Queria mais uma vez dizer que te amo, que me desculpo de
muitas coisa s que fiz, que o teu
abraço tem o espaço que conforta meu coração.
Falaria sobre minha família e
sobre a tua. E sobre a vida, afinal.
E depois desse encontro eu
ficaria no banco vermelho, te vendo partir ou voltar. E eu sentiria uma alegria
intensa e uma força enorme para continuar a regar o jardim que tu deixaste.
O maior amor do mundo, minha
amada.
Um beijo.
Teu jardineiro
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