O Passarinho da Praça
Parte da minha existência se
reduz a observar a praça. Não é muito bonita nem bem cuidada, mas tiro dela o
melhor que posso - para ela e para mim. Sentado junto a minha improdutiva mesa
de trabalho, passam papeis com números apagados e sem graça, sapatos contentes
e de todas as cores, sorriso ortodônticos em rostos inanimados. E penso isso
compreender e aceitar. As coisa s são
assim, desse jeito.
Giro a cadeira e fico olhando para
praça enquanto ela me engraça com tudo que passa, nela e em mim. Verdes e marrons,
alguns lilases e amarelos. Árvores me deixam feliz, primavera me deixa esperançoso,
saibro me leva por caminhos onde há princesas e castelos, reis e rainhas, lab irintos tortuosamente lindos. Tenho um amor por
praças, coisa que me laça e nunca
passa de tanto contentamento.
Gosto demais de passarinhos.
Gosto empoleirados, no chão, voando, procurando comida. Gosto piando ou
cantando, e gosto quieto, olhando. Alegro-me muito com os casais nos banco, os
beijos, os abraços, gosto também. Mas muito mais de passarinhos.
Na minha praça há passarinhos por
demais estranhos. Um deles é um homem vestido de mulher, que com suas trouxas e
sacolas zela por todo esse encanto que vejo. Esse passarinho é assustado,
indefeso, vive frenético, um cuidar elétrico para todos os lados (igual a
passarinho) a procura do inimigo que pode a qualquer momento levar o seu
encanto e sonhos. Todos eles de uma vez.
Esse passarinho passa o dia
naquele trabalho, fala sem cessar, gesticula o tempo todo, lê para o público
transeunte que atento atenta a estranha criatura. Dá espetáculo ao mesmo tempo em
que assusta.
Fico observando a praça, cuido do
meu passarinho. À noite não sei aonde vai, mas rezo para que não se perca de jeito
algum. Preciso da praça e do passarinho da praça, que canta pra mim. Quando me
falta um alento maior que os sapatos coloridos, viro a cadeira e procuro as
árvores, o saibro, meus passarinhos.
Salve a Praça!
ResponderExcluirtodas as praças. beijo
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